Fragmentos de pensamentos pedagógicos
Fragmentos de pensamentos pedagógicos
Escrito por: Cosme Joventino Pereira (pedagogo)
Diferentes dramas, tramas, textos e contextos coexistem numa mesma caixa. Ou seriam semelhantes? O que os aproxima? Quem os aproxima?
Cada letra toma um lugar novo no pensamento de quem lê, a cada vez que lê. “E a cabeça pensa a partir de onde os pés pisam”.
Onde nossos pés pisam? Em muitos lugares...
Pisam em um banco de texto, em maquetes, em trajetórias escolares, em construções coletivas. Desgarrados. Impulsionados pela necessidade, sustentados pelo prazer.
A trilha das letras não está posta de início. O que seria “apenas um atalho” marca-se como cominho. Torna-se um caminho. O professor ao perceber o cominho do aluno, reconhece o seu.
O professor aprende a ser professor. Ao assumir-se como profissional da educação, tem a responsabilidade social com o ensino e a aprendizagem de conhecimentos historicamente construídos. Contudo, assumir a profissionalização como um processo de aprendizagem significa pensar como ele aprende a ensinar e como seus alunos aprendem. Muitos são os desafios...
A aprendizagem, considerando os diferentes saberes, ocorrem em diversos momentos: nos espaços mais formais de estudo, bem como nas brincadeiras, troca de idéias, nos intervalos... Há necessidade de que alunos e professores se percebem num espaço de transformação, de mudanças e de construção de conhecimento.
Com uma economia globalizada, “espaços, compassos, percalços, perdidos no tempo, sem tempo, no tempo atrasado demais. Esperas, de longa data, para ver o sonho se concretizar. Chegamos ao novo milênio com a grande tarefa de entender as transformações que correm desenfreadas e alteram a vida no planeta. E, é nesta realidade, condicionados pelo processo de luta pela construção das nossas utopias, que tentamos construir a nova pedagogia.
Partindo-se do conceito de educação como processo sempre crescente de comunicação e de ação transformadora, um projeto pedagógico deve nortear-se por dados da realidade que impliquem no conhecimento do quadro social. Esse conhecimento que deve abranger as necessidades de um grupo social, num dado momento vai nortear as metas do processo educativo. Porém essa apreensão da realidade não se coloca num nível meramente descritivo, pois ela deve ser compreendida na sua dinâmica, implicando os homens que se movimentam nessa realidade e as relações que mantêm entre si e com todo o quadro social.
A pedagogia das primeiras décadas deste século trabalhava de forma separada as noções de ensino e de aprendizagem. Inicialmente, pensou-se a tarefa do professor quanto ao ensinar. Era ele o detentor do conhecimento e, portanto, lhe competia saber o que os alunos deveriam aprender. Não se cogitava conhecer os alunos e assim descobrir seus interesses, necessidades, experiências de vida e/ ou de trabalho e suas condições favoráveis ou não, de aprendizado.
Partindo de tal compreensão, não é de se estranha que o professor se preocupasse demasiadamente com o programa de ensino. Este “programa” deveria ser vencido no prazo de um ano letivo, durante o qual eram realizadas duas avaliações, no meio e no final do ano. Como não se dispunha de um conhecimento da pessoa do aluno, a avaliação do aprendizado era conseqüentemente uma prova sobre o que se havia ensinado.
Os estudos e pesquisas em psicologia educacional, nesta época, incidiam sobre o condicionamento de comportamento, o processo de percepção, a associação de elementos e idéias, a motivação e transferência de resultados de experimentos em animais, acreditando-se que as conclusões obtidas seriam facilmente transportadas para o estudo do ser humano. Trata-se da chamada psicologia do comportamento. A literatura científica advinha dos trabalhos dos behavioristas, entra os quais Thorndike é uma figura exemplar. Neste campo surge Pavlov estudando em animais o reflexo condicionado.
A concepção de ensino se traduzia por adestramento. Aprender exigia, portanto a repetição exaustiva de informações ou práticas. O professor trabalhava a memorização fazendo os alunos repetirem as informações ou as tarefas. Conseqüentemente a avaliação escolar exigia a simples reprodução do que fora treinado. É bem conhecida esta postura em nosso sistema escolar; até os tempos atuais temos resíduos dessa prática.
Entre as décadas de 40 e 50 localizamos a contribuição da corrente psicológica denominada “Gestalt” que trabalhou, em particular, a questão da percepção. São conhecidas as experiências de percepção na relação figura/fundo. A Gestalt que teve Koeller e Kofka como principais representantes, deu valiosa contribuição no sentido de se entender o fato psicológico como parte de um conjunto de outros fatos.
O que constatei neste processo é que havia uma distância muito grande entra o que se pesquisava e as necessidades dos professores no campo didático. O que me preocupa é que permanece tal relação entre pesquisadores e professores. Mesmo no caso de pesquisas de relevância para orientação das práticas pedagógicas e didáticas, na faixa do ensino fundamental, não se estabelecem canais de comunicação que levem as partes à superação das distâncias. O que é elaborado nas universidades, de modo geral, não é socializada com o magistério de 1º e 2º graus.
Diferentemente desta prática, pudemos contar a partir dos anos 50 com contribuições e pesquisas de outros estudiosos como Jean Piaget, Jerôme Brunner, Henry Wallon, Vygotsky e muitos outros. Embora alguns, como é o caso de Wallon e Vygotsky, tenham vivido na passagem do século, suas contribuições são de grande valor nos dias atuais. Um dos fatores que tem impulsionado no Brasil o avanço da psicologia educacional é a criação de faculdades e cursos de psicologia.
Os estudos de Piaget especificam o comportamento cognitivo. Foi uma tentativa de descobrir como se organiza o pensamento e como se dá a elaboração do conhecimento. Há em Piaget a elaboração de princípios significativos da relação entre pensamento e inteligência, pensamento e linguagem.
L.S. Vygotsky contribui de forma radical para a compreensão de ato de aprender. Para ele não há aprendizagem fora do social e da cultura. Entre outras questões, deve ser considerada a grande diferença de modos de percepção de crianças pertencentes a diferentes segmentos socioeconômicos. Não se trata de inteligência superior ou inferior, mas de domínio de instrumentos capazes de desencadear o pensamento, o raciocínio. Trata-se de uma elaboração psicopedagó-gica sempre remetida ao contexto sociocultural.
Henry Wallon foi um pesquisador que trabalhou e viveu até 1962. Seus estudos sobre aprendizagem também situam o contexto cultural como pano de fundo do ato de aprender. Ela tem, porém, uma contribuição especial que é a análise da influência da afetividade na situação de aprendizagem.
A afetividade nos estudos de H. Wallon tem três dimensões: a afetividade entre aluno e professor; a afetividade entre companheiros de grupo/classe; e a afetividade como sentimento de prezer diante da coisa aprendida.
Wallon, conclui que, se a relação entre professor e alunos é boa, se a relação interclasse/grupo é boa, já se conta com condições extremamente favoráveis para a aprendizagem.
Nessa linha de análise posso falar da necessidade de estima e valorização entre os jovens ou de uma necessidade de perceber o sentido prático de uma aprendizagem. O princípio de ensino-aprendizagem é definido em cada coso, pela presença e pelo envolvimento dos sujeitos em situações que, por um lado ou por outro, sejam gratificantes. Isto garante a adesão ao estudo, à pesquisa e conseqüentemente à elaboração de novos conhecimentos.
2012
Pedagogia